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O QUE AS ÁRVORES TEM A VER COM ENCHENTES???

Atualizado: 26 de out. de 2020





OPINIÃO Matheus Muradás



Novamente São Paulo está enfrentando graves enchentes. Mas afinal, porque a mídia hegemônica insiste em culpar São Pedro? O que foi feito nos últimos 3 anos? Como saímos desse lamaçal que perdura décadas, quiçá séculos?

Muitos dizem que a pauta ambiental é menor e não relevante, coisa de "ecochato", branco e de classe média. Mas, na primeira catástrofe natural, olham pra nós e dizem: "E aí como resolver?" Pois bem, cá estamos, os "ecochatos".


Há de se convier, que muitos dos temas ambientalistas são sim distantes do senso comum. Temas que são ótimos ensaios filosóficos, mas que não dialogam com a realidade mundana, distantes da colossal praça do relógio e dos muros de vidro da USP.


Enchente não... Enchente destrói vidas. Barragens de mineradoras também não. Alimento e crises de saúde também não. Pois então, vamos ao "x" da questão, as nossas corriqueiras enchentes. 


As enchentes são problemas recorrentes da cidade de São Paulo. Nossa primeira enchente ocorreu em 1850. Passados 170 anos, o problema não só não foi resolvido, mas ampliado. Durante esses quase 2 séculos, São Paulo teve centenas de planos de urbanização da cidade, maquetes lindas, planos para o Tietê, para Rio Pinheiros, planos para os córregos. Mas afinal, o que deu errado?

Falando em prodígios da USP, será que Prestes Maia imaginaria que seu plano de avenidas e sua ideia estapafúrdia de copiar o plano urbanístico de Paris traria tantos problemas? Será que lá pelas idas de 1950 Prestes Maia e Anhaia Mello imaginavam que o campo de batalha travado por eles publicamente, o verdadeiro ganhador seria a indústria automobilista a construção civil e não um modelo de cidade para o paulistano? 


Nessa época, apesar dos pesquisadores já alertarem, as preocupações políticas eram outras, pouco importavam as enchentes do Tamanduateí, do Tietê e do Pinheiros, o importante era se desenvolver.

Por um lado, Anhaia Mello se preocupava com a mobilidade do trabalhador e com uma visão mais humana da arquitetura urbana, já naquela época. De outro, Prestes Maia queria garantir a infraestrutura necessária para uma megalópole global. O importante era canalizar os rios e construir grandes avenidas. Erro brutal, que amargamos até hoje, mais de meio século depois. 

A cidade se desenvolveu, mérito se Prestes Maia. Mas será que esse "desenvolvimento" chegou a aquele povo pobre que foi afastado do centro para periferia? Esse mesmo povo que sofre com enchentes e deslizamento de terra. Chegou a aqueles que atravessam a cidade de Leste a Oeste, Norte a Sul e levam em média 1 hora e 50 minutos no trânsito por dia? Chegou a aqueles que buscam moradia barata, em beira de córrego e morro?


Absolutamente não!!!


A cidade na época escolheu as ideias do "gestor" Prestes Maia e rechaçou a tese do urbanismo positivo de Anhaia Melo. Houveram legados de ambos, mas o vencedor não foi nem um, nem outro, mas sim os grandes industriais, que ganharam muito dinheiro e hoje nem estão mais na cidade.

Sugaram o melhor da nossa mão-de-obra e caíram foram, problema de quem segue na cidade não é mesmo?! Os donos do dinheiro caíram fora daqui e hoje estamos aqui, nos remoendo pra resolver problemas e com líderes patéticos que seguem uma agenda neoliberal e de austeridade fiscal.

Passado este breve histórico da urbanística da cidade, chegamos ao período democrático, Maluf e suas obras faraônicas, gastou bilhões e atendeu a quem, se não apenas aos empreiteiros!? Marta fez os piscinões, obra paliativa que ajudou, mas não resolveu o problema. Serra seguindo as bases que Marta deixou na prefeitura, implantou parques e áreas verdes. Haddad atualizou o plano diretor da cidade, incentivou os transportes alternativos e coletivos, alinhado com a agenda 2030, uma visão de cidade moderna e sustentável. Bruno Dória rasgou o plano diretor participativo, para fazer um plano de marketing.

Passados 30 anos avançamos pouquíssimos comparado a aquele "boom" da década de 50. Para uma cidade que já teve embates duríssimos entre mentes brilhantes de épocas passadas, hoje, estamos muito, mas muito mal providos. A cidade está acéfala, inerte e com líderes patéticos.


Bruno Dória são marqueteiros da pior espécie, se vestiram de gari, se arrogaram gestores e abandonaram até zeladoria básica da cidade. O atual plano diretor foi promulgado em 2014, totalmente alinhado com a agenda 2030. Ou seja, sustentabilidade e meio ambiente, tem centralidade neste plano. 

O plano prevê a construção de 158 parques, um fundo municipal de parques, regras específicas para as áreas verdes remanescentes, além de planos específicos para drenagem e vazão da água. Tudo isso, ajudaria e muito a questão das enchentes da cidade. O problema é que Bruno Dória rasgaram o plano diretor. 

Dos 158 parques apenas 10 serão talvez implantados até o fim da gestão, o fundo municipal de parques recebeu míseros R$10 mil em 2020 e as áreas verdes remanescentes estão sendo devastadas cada dia mais, vítima do processo desenfreado de gentrificação. O único ponto positivo é o incremento do plano municipal de arborização, mérito dos técnicos da prefeitura que abraçaram a causa e não dos marqueteiros de boutique.

Enquanto isso, Bruno Dória gastará a bagatela de OITENTA MILHÕES DE REAIS para reformar o Vale Anhangabaú... Além disso, se acovardaram em frear a o mercado imobiliário feroz e irracional. Pelo contrário, se compararam como cães adestrados dos especuladores. 

Bruno Dória quer vender os parques, como já fizeram com o Ibirapuera. Bruno Dória sequer mantiveram a prefeitura presente em atender as vítimas da enchente no Jardim Pantanal na Zona Leste, até os trilhos da CPTM foram tomados pelo Rio Pinheiros, do outro lado da cidade. Enfim, tudo abandonado. Lamentável!!!

Mas o que parques tem haver com enchentes? Parques idealmente devem ser implantados nas chamadas "áreas de fundo de Vale", ou seja, entre um morro e outro, onde de fato há enchente. Por isso, os parques tem lagos, para frear a vazão das águas em momentos de chuva intensa. As árvores são reguladores do clima, controlam a temperatura da cidade e numa ilha de calor como é São Paulo, isso é tudo que precisamos.

É necessário colocar o dedo na ferida.


MEIO AMBIENTE É PRIORIDADE SIM!!! 


Basta de deixar a solução do problema para depois. De um lado, olham para o ambientalismo como custo impeditivo do progresso e gerador de ineficiência. De outro, pensam que ambientalistas não se preocupam com a pobreza e a desigualdade social, logo suas pautas são descartáveis.


Irracional é o mercado imobiliário, boçal que destrói a vida do paulistano, encarece nosso custo de vida, nos joga para as periferias e ainda são gratificados com prefeitos e governantes canalhas! Boçais são estes governantes que jogam para as periferias aterros sanitários, como em São Mateus e permitem a devastação total dos mananciais da Zona Sul. Não tem uma mísera árvore, ou pracinha no extremo leste da cidade, pode isso?


Só quem já perdeu tudo numa enchente sabe quão importante é o cuidado com meio ambiente. Só quem tem um pingo de honestidade intelectual consegue enxergar que estamos gastando BILHÕES anualmente com a "despoluição" do Tietê e gastos emergenciais com enchentes. Bilhões anualmente literalmente indo pro esgoto! Basta de enxugar gelo, é necessário mudar o modelo de governança de cidade. 


Governante após governante não levam a sério os planos urbanísticos da cidade. Os planos tem servido apenas para treino de desenho técnico dos alunos da USP. Não dá mais para brincar com problemas reais. Não vivemos apenas um problema de orçamento e dinheiro, vivemos um problema de modelo de cidade. Resta saber se teremos uma cidade símbolo da qualidade de vida humana ou escrava dos interesses de cartéis, máfias de licitação e especuladores imobiliários.


A cidade cinza grita para se tornar verde! É necessário coragem, coragem pra mudar!


 

Os artigos publicados nesta seção não refletem necessariamente a opinião do Fórum Verde, um ambiente de debates que reúne diversidade de pontos de vista, embora apontem todos para a mesma direção, que é a da proteção, preservação, recuperação, ampliação e uso sustentável das áreas verdes públicas da cidade de São Paulo.

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