CAMINHADA PELO CERRADO PAULISTA

Fórum Verde Permanente, Cerrado Infinito e Jardim Onírico na proteção ao Parque do Juquery, lugar tão próximo e cheio de surpresas para os paulistanos.

O Parque Estadual do Juquery, situado em Franco da Rocha, foi o destino da Caminhada Ativista Animista, uma caminhada dos integrantes do Fórum Verde Permanente de Parques, Praças e Áreas Verde neste domingo, dia 14. Em conjunto com o Cerrado Infinito, Grou Base, Jardim Onírico e integrantes do projeto Campina Cerrado, da FAAC/Unesp, o grupo, de cerca de trinta pessoas, percorreu uma das trilhas do parque localizando, mapeando e fotografando espécies típicas da vegetação de cerrado. Havia no grupo, além dos integrantes dos movimentos, biólogos e paisagistas interessados na identificação das espécies.

O Parque Estadual do Juquery abriga uma das maiores áreas remanescentes de cerrado no estado de São Paulo, bioma que já ocupou extensas porções da Região Metropolitana e hoje resiste de forma fragmentada. Ao longo da caminhada, foram identificadas espécies características dessa vegetação, que evidenciaram a importância histórica e ecológica do parque, como a LOBEIRA Solanum lycocarpum A.St.-Hil. (SOLANACEAE), uma espécie conhecida por seu grande dispersor e apreciador, o lobo guará. Sua presença no local é indicador da existência desse animal por ali em algum momento. Entre muitas outras espécies mais raras, o grupo também localizou plantas típicas do cerrado como a guabiroba, o capim-barba-de-bode, a orelha-de-onça e a língua-de-tucano.

"Foi um gesto de andar como protesto, um modo de agir no mundo com os pés, para alterar a realidade da mente e dos sentidos", afirmou o artista Daniel Caballero, do Cerrado Infinito, sobre a atividade, que para ele serve para alterar a visão estereotipada que há em relação à vegetação de cerrado,. "Depois que alguém conhece o cerrado, ido a campo, tudo muda na mente dele e se dissipam idéias que foram instaladas por anos de colonização cultural. Bastou para isso olhar e ver. Se o ativismo busca mudar um estado de coisas, começemos por nós mesmos transformando ação em relação", afirmou Caballero.

O grupo fez uma pausa para um lanche onde foi promovida uma roda de conversa sobre a situação institucional do parque, a atenção que ele tem recebido do governo estadual e as demandas, como a retirada de plantas invasoras que prosteram no local. Para Francisco Bodião, do Fórum Verde, "é urgente que discutamos e planejemos a renaturalização do cerrado em São Paulo. O Parque Estadual do Juquery é o que resta de representativo dos nossos biomas originais no estado. Deixá-lo à própria sorte — sem um plano de manejo, sem gestão eficaz e sem um plano diretor — equivale a atuar diretamente pela sua completa extinção em São Paulo".

Para o biólogo Moacir Carnelós, a topografia e a flora do parque, que se divide entre topos de morros com "pouca" vegetação de cerrado e fundos de vale com muita vegetação mais típica de mata atlântica , "é a cara do que foi São Paulo, com o campo de cerrado no alto e os fundos de vale onde se acumula matéria orgânica. As partes altas da cidade de São Paulo eram como aqui,no alto uma vegetação menos abundante, como era em muitos pontos mais altos da cidade" afirmou Carnelós.

Segundo Caballero, "o que propomos é um exercício de reativação de conexões entre nós com os capins, com o sol e as nuvens, com as colinas, seus bichos e suas águas, e com a escuta respeitosa da majestosa terra vermelha do cerrado, que nos ensina a participar em vez de dominar. Aqui, na borda da metrópole, onde resiste o último fragmento de vegetação campestre do cerrado paulistano, existem possibilidades de cura á "vora-cidade" que nos esmaga. O cerrado é uma afirmação estética e política do equilíbrio entre nós e as ecologias que nos restam para vivermos".

Fórum Verde Permanente - https://www.instagram.com/forumverdepermanente/

Cerrado Infinito - www.cerradoinfinito.com.br

Jardim Onírico - https://www.instagram.com/jardimonirico/

foto: Sylvia Mielnik