O Parque Jardim da Luz, primeiro parque da cidade de São Paulo e sede da Pinacoteca do Estado, foi visitado no sábado, 15, pelos integrantes do coletivo Fórum Verde Permanente de Parques, Praças e Áreas Verdes, que verificou detalhes como as podas, a manutenção de equipamentos e o uso daquele espaço público.
Técnicos parceiros do Fórum haviam feito anteriormente uma visita técnica ao parque e constataram questões que foram conferidas no sábado. Além de reconhecer o enorme potencial histórico, paisagístico, de saúde pública e de bem-estar do Parque da Luz, e a presença de espécimenes vegetais raríssimos como o alecrim-de-campinas, e outros centenários, também pode ser observado o uso inadequado de locais como uma gruta com forte odor de urina humana. Há também uma área destinada a exercícios com equipamentos construídos por moradores locais e. na proximidade da Pinacoteca, obras de arte instaladas no local, que conferem um ar modernista ao parque, mas que requerem manutenção.
O Fórum Verde constatou que o grande potencial turístico do Parque da Luz está sub-aproveitado, com poucos vínculos com a estação de trem e a Pinacoteca e museus próximos, e áreas em desuso como um aquário e um lago interno, observadores, um coreto e uma casa de chá que tem servido como depósito, estas últimas construídas em arquitetura inglesa do século XVIII, com grande valor arquitetônico. Embora apresentem problemas como a descaracterização de portas e teto que pede manutenção, mantém seu esplendor arquitetônico. O Parque conta também com um “Bosque da Leitura” com livros, gibis e revistas à disposição dos frequentadores.
Participaram da vistoria técnica feita anteriormente Rogério Peixoto (Arquiteto), Indrigo (Educador Físico), Elisa Nascimento (Paisagista), Eliza (Bióloga), Talita Braga (Química), Bia (Socióloga) e Rita (moradora da região). Segue abaixo o resultado desta vistoria.
Na reunião de sábado, a arquiteta Riciane Pombo fez um relato da história do parque e de como a urbanização tratou os recursos hídricos da cidade que o circundam (rios Tamanduateí, hoje coberto pela Avenida do Estado, e Tietê). Devido a essa localização o local era conhecido como Campos de Guaré (que em língua indígena significa “terra molhada”, ganhando a denominação “Luz” só depois de se tornar área concedida a um empreendedor português devoto da santa Nossa Senhora da Luz.
O coletivo foi recebido no Parque da Luz pela ONG Mulheres da Luz, entidade que promove rodas de conversa e problematiza questões de raça, gênero, classe e cultura, tendo se iniciado no atendimento a mulheres em situação de prostituição, às quais presta assistência social.
O coletivo ouviu o relato de Cleone Santos, da ONG Mulheres da Luz, sobre a situação instável da concessão de um local para que possam manter suas reuniões no parque, pois tal cessão de espaço precisa ser negociada anualmente com as Prefeitura de São Paulo. O Fórum prestou solidariedade à demanda da ONG por uma determinação menos instável de um local para suas reuniões, e comprometeu-se a auxiliá-las na eventual instalação de um herbário no local, caso seja autorizado pela Prefeitura, assim como em demais ações de integração com comunidades locais e de preservação do parque. O Parque da Luz tem vocação para empreendimentos do tipo, já que foi criado, em 1825, com o propósito de ser um jardim botânico, e ainda guarda muitas estruturas típicas de uma área assim, tais como alamedas e jardins separados. Uma área destinada especificamente à plantação de roseiras carece de paisagismo e cuidados. O coletivo tomou conhecimento de que haverá, no domingo de Carnaval, dia 23, a eleição do Conselho Gestor do Parque da Luz.
O Fórum Verde, que convidou frequentadores do parque e a ONG a participarem de suas reuniões e se integrarem ao movimento, é composto por integrantes de conselhos de parques municipais, Conselhos Municipais de Meio-Ambiente (Cades) e ecologistas preocupados com as questões da qualidade de vida urbana. O convite para integrar o movimento também deverá ser formulado aos integrantes do Conselho que forem eleitos no domingo de Carnaval.
RELATÓRIO DA VISITA TÉCNICA AO PARQUE DA LUZ (outubro de 2019)
Relatório de visita realizada em 29 de outubro de 2019, pelos membros do GT 02 / GT 03 do fórum verde permanente de parques, praças, e áreas verdes.
Parque Visitado: Jardim da Luz
Responsáveis pela visitação: Rogério Peixoto (Arquiteto), Indrigo (Educador Físico), Elisa Nascimento (Paisagista), Eliza (Bióloga), Talita Braga (Química), Bia (Socióloga), Rita (moradora da região)
Localização: Praça da Luz, s/n, Bom Retiro - Centro. São Paulo - SP.
Área: 113.400 m²
Característica: Parque mais antigo da cidade, criado em 1798, com a finalidade de ser um Horto Botânico. Foi aberto ao público em 1825, sendo o primeiro espaço de lazer da cidade.
Infraestrutura: Este logradouro público conta com coreto, casa do chá, espelhos d’água, casa de administração (com porão), equipamentos de ginásticas, parques para crianças e esculturas, gradeados em todo o seu perímetro.
Flora: Foram encontradas trilhas criadas pelo alinhamento do pau formiga dentro dos bosques densos e brandos, alamedas, jardins com espécies nativas e exóticas, palmeiras nativas e exóticas. Foram identificadas um chichá, uma sapucáia, uma manila copau, uma corticeira, um guatambu leiteiro, alecrim de campinas, genipapu, figueira da índia, castanheiras, magnólias, ipês, oitis entre outras árvores centenárias.
Ave e Fauna: Foram encontradas quinze espécies de aves e cinco animais, as aves são: gavião caboclo, carcará, periquito rico, tucano do bico preto, tucano do bico verde, irerê, picapau da cabela amarela, martim pescador, joão de barro, tico tico, bem te vi. E os animais: tartarugas, três tipos de peixe, gato, cachorro, sagui. Também foi relatado a aparição de bichos preguiça por outros moradores da região. Em 1981 o parque foi tombado como monumento histórico e paisagístico pelo CONDEPHAAT. Em 1999, foi fechado para uma reforma e instalações de bebedouros e lixeiras, que se mantém lá até hoje.
Além da Fauna e da Flora, foram constatadas inúmeras obras de artes. Em especial, uma escultura chamada “Carregadora de Perfume” do artista renomado Vitor Brecheret. Outra escultura, chamada Colar, feitos a partir de bolas de cerâmicas com aproximadamente 10 cm de diâmetro cada uma, da artista Lygia Reinachi. Podemos detectar que a obra citada está sofrendo com bolor, pois, no bosque onde ela se encontra, está havendo uma invasão de uma planta chamada Singônio (Syngonium angustatum), planta nativa de pouco valor ornamental que cresce com muito vigor, cobrindo rapidamente rapidamente os troncos das árvores das palmeiras e esculturas.
Proposta de Encaminhamento: Para manter a conservação do parque, é necessário o manejo técnico das áreas ajardinadas, canteiros, e alamedas, remoção imediata de um parasita chamado erva de passarinho “que está presente e causando danos nas copas das árvores, ramos e galhos”. Manejo imediato para drenagem das águas parada, estagnada. É solicitado com urgência a interdição da gruta encontrada no interior do parque, por conter forte odor de urina humana. É altamente recomendado a convocação da vigilância sanitária do local, assim como o encaminhamento do restauro imediato dos bebedouros e lixeiras, que já ultrapassaram o tempo de uso e, também, o teto do coreto, em construção original secular. Dada a situação atual do parque, é indicado uma entrevista com a Irmã Regina e Dona Cleone dos Santos, que nos recebeu contando a história de uma ONG chamada Mulheres da Luz. Ambas mantém o trabalho assistencial dentro do parque com as mulheres em condição de prostituição, que se encontram sempre nos porões da administração do parque. Esta condição está presente desde o final do século XIX até os dias atuais. Além dos fatos citados, também é solicitado a remoção de plantas de espinhos (Agave angustifólia), que se encontram na entrada principal, por espécies menos agressivas. Assim como o cuidado com as plantas que se encontram em vasos e potes, hoje abandonados.
Com a finalidade de orientar melhor os colaboradores, é de extrema importância a criação de um curso profissionalizante de manejo de áreas verdes, para hortas, herbários e roseiral, dentro do parque.
Em relação aos parques infantis, o equipamento de ginástica, montado por um morador, improvisado para a prática de musculação, precisa ser revitalizado e, seu uso deve ser orientado por um orientador físico. A troca de equipamentos ergométricos que não dialogam com o conceito de academia ao ar livre. A norma de acessibilidade universal é inexistente dentro do parque, é falho, o direito de usufruir de maneira digna.
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